K. (trecho)

O melhor que K. tinha a fazer era levar a encomenda de sua tia para casa. Não compartilhava os sentimentos familiares que tanto tentavam lhe empurrar. Sentia apenas que as aproximações se formam na empatia e não por laços sanguíneos. E apesar da utilidade e da necessidade do presente, não sentia a vontade de demonstrar isso.

Sentia apenas a vergonha de ter sua vida exposta em uma conversa informal que sua mãe teve com ela. Simplesmente tentava entender como o respeito havia sido deixado de lado. Ter seu espaço invadido se transformava em angústia e dor. K. simplesmente não sabia como lidar com a dor.

Sempre cuidava de só cuidar da sua vida e prezava isso. E queria que seus familiares também. Precoce e independente desde os seus 13 para 14 anos, não aceitava a interferência, não daquela maneira. Apesar de tudo K. levava sua vida de forma digna na maior parte do tempo, passava por todos os desafios com alguma categoria, mas dessa vez a coisa havia sido feia e realmente precisava de alguma ajuda, mas seu grito de socorro foi ouvido da forma mais vil possível.

Com vergonha da situação, K. ficou em casa por duas semanas. Aos 38 desistiu de sofrer e foi em uma viagem sem volta para o oeste brasileiro.

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